Reflexão sobre o Sofrimento 2ª parte

quinta-feira, 14 de julho de 2011


Reflexão sobre o Sofrimento
2ª parte
Yao Ming Yao Ming of the China Olympic men's basketball team carries his country's flag to lead out the delegation accompanied by Lin Hao, a 9-year old survivivor of the Schenau earthquake, during the Opening Ceremony for the 2008 Beijing Summer Olympics at the National Stadium on August 8, 2008 in Beijing, China.



Todo aquele que trabalha com a escuta sabe que há reações inconscientes com relação a si mesmo. Nenhum analista vai além do que seus próprios complexos e resistências internas.  As reações devem ser reduzidas através da análise pessoal daquele que ouve, interpretando essas manifestações.  
É de suma importância que todos aqueles que trabalham com a escuta tenham também alguém capacitado que os ouça, pois podem ocorrer projeções, ou seja, sentimentos, impulsos, padecimento, pensamentos indesejáveis e inaceitáveis ou atribuir características inconscientemente.
Não são poucas as pessoas que encontramos que emprestam seu ouvido sem os devidos cuidados consigo mesmo e então ocorre o que chamamos de contratransferência, isto se deve a carência desta pessoa e a problemas não resolvidos.
Quem ouve precisa estar atento para interpretar qualquer um dos mecanismos quanto os próprios sentimentos, caso contrário ficam vendidos nesta escuta e impedidos de trabalhar em benefício do próximo. E infelizmente há uma enorme resistência de alguns em permitirem serem tratados. Muitas vezes se colocam como senhores (as) da teoria, sábios (as) das palavras, mas saber a teoria não faz compreender o que se passa no próprio eu. A compreensão da teoria significa que entendem o que leem e não que vivem na própria pele esses significados ou que estão despidos de resistências. Esse é o diferencial que faz com que a escuta seja vital tanto para quem escuta quanto para quem fala.
Ao refletir sobre o sofrimento me utilizarei de vinhetas.
“Senhor de 85 anos chega aos prantos dizendo: Minha muié me abandonou. Ao perguntar a razão pela qual a esposa havia lhe abandonado ele declara que a traiu”.
Algumas perguntas são necessárias já que não se consegue imaginar qualquer movimento de traição em um corpo tão fragilizado pelo tempo e então vem à resposta:
“Pois está é a minha desgraça. Não cheguei nem a trair direito, mas ela viu”.
Este homem estava inconsolável. Logo em seguida ele diz:
 “Há 86 anos estou ao lado desta mulher. Eu a ama com todas as minhas forças, mas foi um vacilo. Eu nunca traí minha esposa e neste vacilo ela viu. Foi com a empregada lá de casa. Fiz uma gracinha e ela pegou e no meu descontrole, naquele momento eu não sabia o que eu estava fazendo e ela não quer mais eu”.
Este senhorzinho pranteava tanto e então ele diz:
“Sabe o que mais dói? É saber que os meus 60 anos de fidelidade valeram menos do que 5 minutos de traição”.
Caso você não esteja com a escuta apurada dirá que este senhorzinho é um sem vergonha. Mas não é. Essa matemática dele é a mesma que Jesus nos ensina, que a misericórdia prevalece acima de qualquer coisa. Não cabe julgar se a atitude deste senhor com a sua esposa foi correta ou não. O que compete a quem escuta é entender as razões que o levaram a dizer um gracejo para a empregada.
Muitas vezes a traição do outro só pode ser resolvida com a matemática de Jesus. Não estou dizendo que você deva se tornar (desculpe a expressão) uma corna mansa onde o outro faz o que deseja com você. Mas encare o sofrimento, esta marca que a vida te deixou do jeito certo. Ele (a) pode ter traído a confiança, mas você não pode continuar se traído. Você deixa de se amar, de se respeitar, pois cada vez que você se curva com o sofrimento do traidor você o reforça dentro de si.
Quanto sofrimento afetivo dentro do ser humano por não serem capazes de jogar fora os restos dos lixos que o outro deixou. Passam anos alimentando o ódio, traições. Se o outro te traiu (e não falo apenas de relações amorosas, mas qualquer tipo de traição) expulse o poder desta traição dentro de você! Você só poderá reconstruir o seu caminho se for colocado diante de si à realidade de que não pode continuar se traindo e a partir desta tomada de consciência ser uma pessoa melhor.
Podemos observar no setting terapêutico que o grande problema da mulher traída é quando ela começa a se depreciar. Começam a se achar feia, pouco atraente, quando deveria ser o contrário.
A escrita me dá a liberdade de expressar coisas que o setting não permite, mas há momentos em que temos o desejo de dizer a pessoa (seja homem ou mulher – independe da situação em que ocorreu a traição): “Por favor, não fique com esta cara de cachorro que caiu da mudança! Liberte-se deste sofrimento! Erga sua cabeça! O mundo não acabou por isso. Pare de lamentar o leite derramado! O leite pode estar derramado, mas a vaca continua no pasto. Por que perderia tempo chorando por um copo de leite?”
Se há algum valor nesta relação, então corra atrás, sofra pela causa certa. Existem muitas mulheres que sofrem o desprezo de seus maridos e não é este sofrimento que vale a pena – isto é sofrer pela causa errada.
Perdoe, pois o perdão reconstrói.  Muitas desejam vingança e a melhor forma de se “vingar” não é traindo, mas é você se tornando um ser humano melhor do que você era antes da traição.
Nada de espírito de “coitadinha”. Por favor! Ele (a) não te deseja mais! Se você continuar resguardando este ódio, este sentimento de ter sido jogada fora... Pare com isso! Lave esse rosto! Levante essa cabeça!
Não queira ser vítima. Queira saber encarar o sofrimento. Foi traída (o)? Encare essa traição, mas não se traia. Não permita que a traição se torne sua.
Quantos sofrimentos afetivos! Tudo bem o outro não te quer mais, mas você precisa se querer! Se você não se deseja, então não há mais solução para você.
Quantas pessoas chegam sofrendo e dizem que não sabem mais o que fazer com suas vidas. Eu não posso mudar a vida das pessoas. Não tenho como fazer a outra pessoa voltar a amar aquele (a) que reclama o amor perdido, mas, por favor, goste de você. Não permita que este sofrimento seja como um muro caído sobre você.
O ser humano pode se perder dele mesmo quando os muros das tragédias, dos sofrimentos caem sobre si e ficam debaixo dos concretos e não reagem. Ficam lamentando, mas não saem daquele lugar, não reagem de maneira positiva.
Em 2008 nas Olimpíadas, ao entrar a delegação chinesa aparece o atleta Yao Ming – o gigante de 2,29m carregando a bandeira da China e do seu lado havia um garotinho.
Num dado momento o ancora da TV diz: “E hoje ao lado do grande astro, uma surpresa: o menino sobrevivente do terremoto na província de Sichuan. Ele foi encontrado entre os escombros, ajudou a salvar colegas de escola e se tornou um herói no país”.
Essa criança ficou soterrada quase uma semana na escola em que ele estava com todos seus coleguinhas de classe e você sabe como ele salvou seus colegas? Ele não deixou seus colegas se desesperarem e durante todo o tempo em que estiveram soterrados eles cantaram motivados por este menino.
Eles cantavam e através do canto o resgate os localizou. Aquele menino fez a diferença no mundo porque na hora da dor ao invés de se render ao sofrimento e lamentar, ele resolveu cantar. Ele buscou o canto no mais profundo de seu coraçãozinho. Certamente aquele menino deve ter sido muito bem preparado. Com pouca idade já era suficiente para fazer dele um ser humano diferente. Ele certamente deve ter aprendido esta postura diante do sofrimento com os pais. “No momento de sua dificuldade, meu filho, não desista!”
No momento em que o “muro” cair sobre você, no momento em que o “concreto” tentar te sepultar, não permita e mesmo que você não tenha condições de sair sozinho cante para que alguém te escute.
O menino ao lado do atleta de 2,29m é uma cena poética. Um homem imenso ao lado de um ser tão pequeno. Agora eu pergunto a você: Depois de ter lido esta história e ao observar a foto acima, eu lhe pergunto: quem é o gigante nesta história?
Não importa quantos dias ele tenha ficado sepultado, o que importa é que ele não parou de cantar, não desistiu. A mesma coisa Deus quer nos dizer hoje. Não importa quanto tempo você tenha ficado sepultado (a), não importa quantas coisas tenham caído sobre você, quanto tempo você tem alimentado esse sofrimento desordenado do ponto de vista afetivo, não importa quanto tempo você deixou de se amar. O que importa é que hoje você pode cantar hoje você pode reiniciar um tempo na sua vida porque Deus ao curar o nosso jeito de interpretar o nosso sofrimento, Ele muda o que nós temos de mais profundo. A sua vida continua do mesmo jeito. A traição continua do mesmo jeito, a doença continua do mesmo jeito, você não tem como eliminar isto da sua vida, mas você tem como modificar esta chaga. Você neutraliza o poder do traidor, o poder da enfermidade dentro de você. Você neutraliza o poder do desprezo.
Quantas chagas afetivas tem o ser humano! Elas são alimentadas justamente com o ódio que a pessoa faz questão de nutrir. É como se apertassem uma ferida e não permitissem que ela cicatrizasse. Chega! Lave esse rosto! É vida nova! Há um novo para chegar!
Eu não sei o que está fazendo você envelhecer tão rápido, não sei o que tem feito você perder a esperança, o que está retirando seu brilho, eu não sei o que ficou antigo dentro de seu coração. Pode ser que você se sinta muito pequeno diante desta situação. Pode ser que você esteja amedrontado com o tamanho da vida, com o tamanho do problema.  Por favor, modifique o modo como você olha para você. Às vezes o que Deus precisa curar não é o outro. Não é o seu esposo (a) que precisa ser curado (a) da infidelidade, mas o jeito como você se enxerga como mulher, como homem e quem sabe você voltando a se amar, você voltando a se querer bem, você resgate aquilo que perdeu na vida.
Você consegue imaginar o que aquele menininho debaixo dos escombros precisou desafiar a si mesmo? Quantas vezes o coração dele deve ter vivido: “Não vai chegar ninguém”. Quantas vezes ele deve ter passado pela tentação de parar de cantar. Quantas vezes ele deve ter tido a tentação de se unir ao desespero de seus coleguinhas, a desesperança dos que estavam ao lado, pois na hora da desesperança o que mais existe são pessoas que nos puxam para trás. O que mais nós encontramos na vida são pessoas que tentam nos puxar para trás e aquele menino tendo que olhar nos olhos dos desesperançados e continuar alimentando a força de seu canto, pois ele não desistia. Mesmo a morte estando tão presente, chegando tão próximo, mesmo a morte ameaçando de maneira tão cruel, tão concreta, ele não desistiu.
Meu bem, se este menino não pode nos ensinar alguma coisa, então eu não sei mais o que aprender. Eu não sei se há mais alguma coisa a aprender se não for isto: Uma criança debaixo do concreto tentando encontrar o sentido da vida.
Mas porque será que o ser humano muitas vezes não reage? Porque será que muitas vezes o ser humano prefere sucumbir à dificuldade do momento? Porque tantas vezes o ser humano prefere o olhar de desesperança ao invés de prestar atenção no que pode dar certo. Isto é cura de Deus em nós. Modificar o jeito como nós olhamos nossas desesperanças. Elas não são determinantes em nós.
 Qual o concreto que está sobre você hoje? Peça hoje a Deus a graça de que este “concreto” seja retirado e com o esforço do seu canto a esperança possa brotar. Tenha a certeza de que Deus não deseja que o ser humano permaneça debaixo de escombros. Deus nos quer de fora, bonitos, restaurados, novos, porque o amor Deus por nós consiste nisso, em fazer nova toda criatura, em restaurá-la, em retirá-la de situações desfavoráveis. Peça a Deus hoje a graça de curar todos os afetos desordenados, todas as lembranças passadas, tudo aquilo que te aprisiona, tudo aquilo que é realidade e destruição em sua vida, todos os lixos afetivos que foram ficando em você, todos os acontecimentos que você não soube conviver bem com eles ao longo da sua história.
Proclame o poder de Deus sobre você, sobre seu coração, sobre seus afetos.
Meu desejo é que este texto, como um vulcão entrando em erupção, sua alma exploda e que estas palavras fecundem. Receba este texto como quem recebe um presente. Todas às vezes, durante a leitura, que você se recordou de uma situação ou de uma pessoa, e o texto veio trazendo tudo a tona e agora todas estas lembranças estão afloradas deixe que esses dois textos sobre sofrimento fecunde em você crescimento. Que hoje Deus possa te fazer crescer, te agigantar, pois sofrimento é coisa para gigantes. Que você tenha a coragem para enfrentar todas as dificuldades que a vida te apresenta. Que você possa amadurecer trazendo a consciência de que Deus não vai resolver os problemas. Quem tem que resolvê-los somos nós, mas Ele nos dá a força para cantar para que todo “concreto” que estiver sobre você seja lançado fora. Que você seja despertado em teu coração o querer: “Eu quero Senhor sair dessa situação de humilhação que o sofrimento me trás. Eu não quero que o sofrimento seja o destino final, eu quero que ele seja apenas ponte de travessia. Eu quero resgatar o que eu tenho de mais bonito no meu coração e esta benção vem agora para fecundar estes desejos”.
Quantos seres humanos precisam voltar a se amar, a se querer bem, a se desejar o bem! Quantos seres humanos precisam hoje sacudir a poeira e levantar assim como o Cristo glorioso levantou-se do sepulcro, assim como aquele garotinho de nove anos conseguiu sair debaixo do concreto depois de alguns dias soterrado, cantando um canto de esperança.
É este o meu desejo neste dia que se chama hoje para tua vida. Que o teu coração seja fecundado com esta coragem de todas as iniciativas que poderão fazer com que a tua vida ser bem melhor.
O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti. O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Regina Lopes

1 comentários:

Anônimo disse...

Este texto é uma mensagem do Padre Fabio de Melo com o titulo "Sofrimento, desafios para gigantes" está no Youtube sob este título, os créditos não deveriam ser dados a ele?

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