Reflexão sobre o Sofrimento

quinta-feira, 14 de julho de 2011


Reflexão sobre o Sofrimento

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Debruçada sobre uma poesia de Fernando Pessoa (A Tabacaria) pensando em utilizá-lo como texto disparador em uma aula, lembrei-me de certa pessoa que me procurou. Ela relatou ter sofrimento um rompimento há dois anos e desde então tem estado apática.
O sofrimento é natural e natural é tudo aquilo que não foi acrescentado, faz parte da condição humana. O sofrimento está em mim, está em você. Nós o experimentamos de forma pequena, de forma grande, pois nós somos limitados.
O nosso limite é tão grande que nós não sabemos viver sem o outro, por esta razão nós sofremos quando o outro vai embora da nossa vida. A condição de limite nos faz pensar o outro como parte de nós.
Eu, porque sou limitada, porque tenho limites, preciso amar, pois o amor nasce do limite, quando nós reconhecemos que nós não damos conta da vida sozinhos. Talvez seja por isso que doa tanto no coração do ser humano no momento em que se é traído por aqueles a quem se ama. Talvez seja por isso que doa tanto no coração do ser humano no momento em que o ser trai a quem amam, pois quando o ser humano é traído ele fica ainda mais limitado.
O amor do outro faz o ser humano viver a experiência do complemento. O ser humano se torna maior porque outro ser o ama, e cada ser humano fica maior quando ama alguém. Por esta razão o sofrimento é natural À saudade é uma concretização do limite: “Eu sinto tanto a sua falta”. Saudade de pai e mãe é uma das coisas mais doídas que nós podemos viver na vida. A certeza de que eles velam por nós nos fazem pessoas felizes.
É difícil ficar distante – é o complemento que nos falta. A saudade nos ajuda a compreender o quanto nós amamos. Retire uma pessoa de sua vida, pense sua vida sem esta pessoa e você irá descobrir o quanto você a ama. É experiência de limite. O amor é sofrimento e quanto mais nós mergulhamos na capacidade de amar, maior será a nossa sensibilidade para o sofrimento.
Talvez você pergunte: “Então quanto mais nós amamos, mais nós sofremos”? Eu lamento informar que sim. Pois a experiência de amar é a experiência de tocar o limite, por esta razão o sofrimento está tão atrelado ao amor.
Nós não sofremos quando nós não amamos. Não há causas para sofrer quando você não ama, mas eu lhe pergunto: É possível viver nesta vida sem o envolvimento do amor? Penso que não seja possível.
Nós nos experimentamos limitados o tempo todo e o tempo todo nós estamos precisando de alguém do nosso lado – alguém que olhe em nossos olhos e diga “eu estou aqui”. Alguém que segure nossa mão na hora de atravessar o túnel. É o momento em que nós mergulhamos na mais bonita aventura humana – é quando nós reconhecemos “eu preciso de você”. Quando a vida vai te apertando tanto que não resta outro grito: “eu preciso de você”.
Talvez seja por esta razão que nos momentos de maiores apuros na nossa vida o primeiro nome que nós gritávamos era “mãe”, pois é a primeira experiência de complemento que você tem. Mãe é alguém que te “expulsou” para que você nascesse e alguém que começou a dar sentido a sua capacidade de amar. Amor de complemento - e depois nós vamos passando pela experiência de amar outras pessoas porque um dia você foi amado.
E porque somos amados,  o sofrimento faz parte da nossa vida. Não há amor sem sofrimento e não há sofrimento sem amor. Por esta razão nós não podemos criar dentro de nós uma ilusão: “A partir de hoje a minha vida vai ser linda. Não vai haver dificuldades”.
Infelizmente esta notícia nós não podemos dar aos amantes. As pessoas que verdadeiramente amam nesta vida sofrem por grandes causas. Elas não são indiferentes ao sofrimento  dos que estão do lado e por isso Jesus convida o tempo todo seus amigos a viverem a experiência do amor.
O sofrimento de Jesus foi porque nos amou. Ele não sabia ficar indiferente as pessoas. Seja honesto com você. O momento em que você mais sofreu, foi o momento em que você mais amou ou que você identificou o amor traído ou o amor ausente.
É seu! É sua riqueza! O meu grande desejo é que você ao ler este texto tenha coragem de abrir a sua caixa de sofrimento e vê que a caixa não é tão feia assim. Ela está cheia de amores. Ela está cheia de situações bonitas que você precisa reorganizar e que estão aparentemente embrulhadas em papéis estranhos. O sofrimento costuma embrulhar com papel estranho aquilo que é bonito.
Talvez você diga: “Mas não é bonito ver partindo alguém que nós amamos”. É sim. Pois naquele momento em que ela está partindo – que é um processo naturalíssimo da vida, você está identificando que um dia alguém extraiu o que você tinha de melhor.
Nós não choramos por quem não fez a diferença em nossa vida. Se você está sofrendo por alguma causa é porque isto é importante para você. Por isso nós não podemos desprezar a matéria do sofrimento. Por isso nós não podemos fechar a porta e dizer: “Aqui você não entra”.
Como não entra, se ele está justamente parado na porta para mostrar aquilo que você tem de mais precioso?
Há um livro de Fábio de Melo que li há uns três anos atrás e ele começa com a seguinte frase: Quando o sofrimento bater á sua porta é melhor abrir. Resistir ou negá-lo é apenas um jeito de fugir do que mais cedo ou mais tarde você terá que enfrentar”.
Nós não temos como deixar de sofrer porque nós não temos como deixar de amar. E se você tivesse que passar hoje pelo processo de escolha, muito provavelmente não iria querer deixar de amar.
Quando pensamos nas melhores coisas da vida descobrimos que para elas serem boas de verdade, nós precisamos ter alguém do nosso lado (e as piores também). Seja para viver a alegria extrema, ou seja, para viver a dor extrema. Nós precisamos de pessoas ao nosso lado dizendo: “eu estou aqui”.
Nós não temos como mudar esta perspectiva. O sofrimento nasce do limite – o limite nos esbarra o tempo todo. Seja por uma enfermidade, por uma traição, porque sente dor, pela partida, porque deseja aprisionar o outro. O limite está aí.
Num instante você acorda e a vida não é mais do jeito que você queria. Num instante as pessoas que você ama vão embora. Num instante as pessoas morrem de maneira trágica e nós ficamos aqui com a vida precisando dar um jeito nela. É o parto novamente! É a nossa experiência de estar mais uma vez no útero da vida sofrendo o processo da contração e a vida nos expulsando. E agora? O que você vai fazer?
 Chegamos ao primeiro ponto: Nós não podemos mudar o fato de ter que sofrer. Você não pode mudar o fato de ter que sofrer. Então nos chega uma pergunta: Se nós vamos ter que sofrer nesta vida, então nós precisamos descobrir como sofrer. Não é tanto porque sofrer, mas como sofrer.
Quantas vezes você se pergunta: Meu Deus porque estou sofrendo tanto assim?
Você já conseguiu chegar a alguma resposta? Nem sempre! Nem sempre nós encontramos respostas para as causas dos nossos sofrimentos. Nem sempre nós conseguimos chegar à resposta do porque a dor bateu a nossa porta. Agora eu pergunto: Se você não pode chegar à resposta – (ou se chegar não vai adiantar muita coisa). Não alivia o sofrimento. Então qual seria a outra pergunta que nós poderíamos fazer?
Nós não temos como mudar a dor. Ela está aqui. Batendo a nossa porta, então agora nós precisamos descobrir como sofrer. Não adiantará muito você alimentar o sofrimento com perguntas inférteis.
Quantos seres humanos se alimentam de perguntas inférteis: “Porque isto aconteceu?” Quanto mais insistem no “porque”, menos razões encontram para continuar vivendo, pois o poder do “porque” é justamente neutralizar a solução.
Algo ruim alcança o ser humano e ele não para de pensar naquilo: “porque isto aconteceu, porque comigo, porque ele fez isto? ”.
O por que é uma pergunta natural diante da vida. Nós somos filósofos desde o início. Este é o tema principal da Filosofia. Quando nós éramos crianças nós vivíamos perguntando “porque”. Nós queremos saber a razão de tudo e muitas coisas nós podemos encontrar as respostas – é matemático, é científico, é lógico, mas existem momentos em que não conseguimos chegar a nenhuma resposta, pois esta resposta não existe. E o que o ser humano faz no momento em que não tem respostas? Sofre.
É limite. Não saber o por que coloca dentro do ser humano uma pergunta lhe faz sofrer. Mas o grande problema é que perguntar o “porque” não alivia a dor. Você conheceu alguma pessoa que ficou curada perguntando “porque”?
Existem momentos em nossas vidas que não combinam com perguntas. Não há nenhuma pergunta que seja capaz de responder uma tragédia. Não há pergunta que possa dar conta de aliviar o coração de uma mulher que perde um filho.
O que você precisa fazer é parar de perguntar, pois quanto mais você pergunta, mais distante você fica do consolo que poderia encontrar. Quanto mais você se pergunta o por que da tragédia, menos possibilidade terá de continuar a vida. Perde-se a capacidade de persistir.
O por que só serve para fechar o ser humano egoisticamente em si mesmo e fazendo a pergunta infértil o ser humano jamais resolverá dentro de seu coração o conflito que as tragédias promovem.
O mais honesto é sofrer o que tem a sofrer, mas permitir que a vida continue.  A causa de muitos sofrimentos está em justamente não permitir que a vida prossiga.
Tenho estudado sobre sofrimento e suicídio nas empresas devido a duas apresentações que farei e penso que o ser humano tem estacionado o seu “trem” na estação triste e não partem. O trem não parte e as pessoas que estão no mesmo vagão estão precisando viver e este ser humano não tem permitido que o trem siga seu curso, que prossiga.
As pessoas são acorrentadas no sofrimento do outro, pois a partir do momento em que nós nos recusamos a superar o sofrimento que nos envolve, nós fazemos sofrer todos os que estão a nossa volta, pois os que nos amam também sofrem porque nós estamos sofrendo.
Por esta razão a reação mais justa, mais honesta diante do sofrimento é a superação. Sempre!
Organize o seu luto. Chore a sua dor de perder. Organize a sua tragédia, mas continue vivendo. Olhe nos olhos de quem ficou. Olhe ao seu redor e descubra os motivos pelos quais ainda você pode continuar a vida. O sofrimento que visita o coração do ser humano não pode ser causa de ruina. Ele precisa ser causa de ensinamento.
Quantos seres humanos que são incapazes de administrar o luto. Desarrumam tanto suas “casas” que não sabem mais o que fazer com ela.
Desde que nascemos ninguém nos prometeu que a vida seria fácil. Ninguém nos iludiu dizendo que a vida seria simples, mas o que acontece com o ser humano que parece nunca está pronto para sofrer? Parecem que nunca estão prontos para dar a volta por cima.
Penso que a razão seja a imaturidade. O ser humano está cada dia mais imaturo. A imaturidade está prevalecendo tanto, o ser humano muitas vezes é “anão” afetivamente. Crescem no tamanho, mas não crescem na capacidade de estabelecer o pacto com a vida aconteça o que acontecer.
E nós identificamos as pessoas interessantes no mundo à medida que nós descobrimos pessoas que foram capazes de superar e permanecer de pé. Seres humanos que não se curvam diante da dor, seres humanos que não permitem que a vida os sepultem. Seres humanos preparados, seres humanos que sabem perder, seres humanos que sabem encarar o sofrimento, seres humanos que fazem de sua tragédia o ponto de partida e não o ponto de chegada, seres humanos que aprenderam a subir o calvário, pois o calvário é justamente o lugar de purgar tudo o que é excessivo no ser humano.
Quando os seres humanos não se esforçam para superar a sua dor, eles aprisionam outros no mesmo sofrimento. O sofrimento pode despertar o que o ser humano tem de mais egoísta.  Quantas pessoas se tornam interessantes quando tomam a iniciativa de não permitirem que o sofrimento seja o ponto de chegada. Não permitem que a vida os suputem mais do que a própria morte.  O poeta Mia Couto disse certa vez: "Para alguns,  a vida sepulta mais que a morte. ”. 
Quando o ser humano não dá conta da vida, quando não dão conta de olhar para as dificuldades que tem, quando não encaram seus limites de forma positiva, quando se curvam as suas fraquezas, as suas fragilidades, quando criam este espírito de vítima, de gente “coitadista” (uma expressão de Augusto Cury) e seguem proclamando o que a vida fez com eles.
Por favor, compreenda o que direi: Eu não estou interessada naquilo que a vida fez com você. A mim interessa o que você pode fazer com a vida.
O que a vida fez com você, eu não tenho como mudar e eu ainda não encontrei nenhum ser humano que seja capaz de mudar o que a vida fez. Isto é passado. Nós não temos como “levantar o muro”, nós não temos como evitar a tragédia, não temos como fazer o tempo voltar. Quem me dera ter este dom!
Você não tem como mudar o seu passado. Não tem como mudar o que te aconteceu. Cada ser humano carrega em si marcas profundas de sofrimentos passados, de coisas que aconteceram, mas alguns ainda hoje são levados pelo cabresto.
Se não for compreendido de maneira correta, o sofrimento se transforma em cabresto. Aquela corda que puxa o animal dando direção para onde o dono deseja. O cabresto do cavalo firma nas duas partes da cara e se o dono deseja que ele vire para a direita, então a corda é puxada para a direita, se deseja que vire para a esquerda, então a corda é puxada para a esquerda. Quantos seres humanos no cabresto do sofrimento, pois não foram capazes de assumir a autoria da vida no momento da dor. Preferiram ficar perguntando “porque”.
Sabe por que ainda não chegou à resposta depois de dois, três, vinte anos? Porque ainda não fez a pergunta certa!  Ficam na pergunta equivocada e jamais chegarão à resposta porque a sabedoria nos ensina que ao invés de perguntar por que está passando por esta situação, deveriam se perguntar “como eu passarei por isso agora”. É desafio de gigantes!
Se desejarmos ser gente, precisamos olhar para a vida com coragem, de frente. Chega de seres humanos fracassados! Chega de gente indisposta para assumir a vida! É assustador o despreparo humano no mundo de hoje. Seres humanos jogam para cima com facilidade os problemas que são seus e tudo porque querem uma vida “bonitinha, organizada, feliz”.
Fábio de Melo  diz que “sofrer é como experimentar as inadequações da vida. Elas estão por toda parte. São geradas pelas nossas escolhas, mas também pelos condicionamentos dos quais somos vítimas. Sofrimento é destino inevitável, porque é fruto do processo que nos torna humanos”. Para mim o grande desafio é fazer outros seres humanos (seja no hospital, nas empresas, nas escolas e até mesmo na igreja onde congrego) identificar o sofrimento que vale a pena ser sofrido e sofrer da maneira certa.

Até breve!
Regina Lopes

Reflexão sobre o Sofrimento 2ª parte


Reflexão sobre o Sofrimento
2ª parte
Yao Ming Yao Ming of the China Olympic men's basketball team carries his country's flag to lead out the delegation accompanied by Lin Hao, a 9-year old survivivor of the Schenau earthquake, during the Opening Ceremony for the 2008 Beijing Summer Olympics at the National Stadium on August 8, 2008 in Beijing, China.



Todo aquele que trabalha com a escuta sabe que há reações inconscientes com relação a si mesmo. Nenhum analista vai além do que seus próprios complexos e resistências internas.  As reações devem ser reduzidas através da análise pessoal daquele que ouve, interpretando essas manifestações.  
É de suma importância que todos aqueles que trabalham com a escuta tenham também alguém capacitado que os ouça, pois podem ocorrer projeções, ou seja, sentimentos, impulsos, padecimento, pensamentos indesejáveis e inaceitáveis ou atribuir características inconscientemente.
Não são poucas as pessoas que encontramos que emprestam seu ouvido sem os devidos cuidados consigo mesmo e então ocorre o que chamamos de contratransferência, isto se deve a carência desta pessoa e a problemas não resolvidos.
Quem ouve precisa estar atento para interpretar qualquer um dos mecanismos quanto os próprios sentimentos, caso contrário ficam vendidos nesta escuta e impedidos de trabalhar em benefício do próximo. E infelizmente há uma enorme resistência de alguns em permitirem serem tratados. Muitas vezes se colocam como senhores (as) da teoria, sábios (as) das palavras, mas saber a teoria não faz compreender o que se passa no próprio eu. A compreensão da teoria significa que entendem o que leem e não que vivem na própria pele esses significados ou que estão despidos de resistências. Esse é o diferencial que faz com que a escuta seja vital tanto para quem escuta quanto para quem fala.
Ao refletir sobre o sofrimento me utilizarei de vinhetas.
“Senhor de 85 anos chega aos prantos dizendo: Minha muié me abandonou. Ao perguntar a razão pela qual a esposa havia lhe abandonado ele declara que a traiu”.
Algumas perguntas são necessárias já que não se consegue imaginar qualquer movimento de traição em um corpo tão fragilizado pelo tempo e então vem à resposta:
“Pois está é a minha desgraça. Não cheguei nem a trair direito, mas ela viu”.
Este homem estava inconsolável. Logo em seguida ele diz:
 “Há 86 anos estou ao lado desta mulher. Eu a ama com todas as minhas forças, mas foi um vacilo. Eu nunca traí minha esposa e neste vacilo ela viu. Foi com a empregada lá de casa. Fiz uma gracinha e ela pegou e no meu descontrole, naquele momento eu não sabia o que eu estava fazendo e ela não quer mais eu”.
Este senhorzinho pranteava tanto e então ele diz:
“Sabe o que mais dói? É saber que os meus 60 anos de fidelidade valeram menos do que 5 minutos de traição”.
Caso você não esteja com a escuta apurada dirá que este senhorzinho é um sem vergonha. Mas não é. Essa matemática dele é a mesma que Jesus nos ensina, que a misericórdia prevalece acima de qualquer coisa. Não cabe julgar se a atitude deste senhor com a sua esposa foi correta ou não. O que compete a quem escuta é entender as razões que o levaram a dizer um gracejo para a empregada.
Muitas vezes a traição do outro só pode ser resolvida com a matemática de Jesus. Não estou dizendo que você deva se tornar (desculpe a expressão) uma corna mansa onde o outro faz o que deseja com você. Mas encare o sofrimento, esta marca que a vida te deixou do jeito certo. Ele (a) pode ter traído a confiança, mas você não pode continuar se traído. Você deixa de se amar, de se respeitar, pois cada vez que você se curva com o sofrimento do traidor você o reforça dentro de si.
Quanto sofrimento afetivo dentro do ser humano por não serem capazes de jogar fora os restos dos lixos que o outro deixou. Passam anos alimentando o ódio, traições. Se o outro te traiu (e não falo apenas de relações amorosas, mas qualquer tipo de traição) expulse o poder desta traição dentro de você! Você só poderá reconstruir o seu caminho se for colocado diante de si à realidade de que não pode continuar se traindo e a partir desta tomada de consciência ser uma pessoa melhor.
Podemos observar no setting terapêutico que o grande problema da mulher traída é quando ela começa a se depreciar. Começam a se achar feia, pouco atraente, quando deveria ser o contrário.
A escrita me dá a liberdade de expressar coisas que o setting não permite, mas há momentos em que temos o desejo de dizer a pessoa (seja homem ou mulher – independe da situação em que ocorreu a traição): “Por favor, não fique com esta cara de cachorro que caiu da mudança! Liberte-se deste sofrimento! Erga sua cabeça! O mundo não acabou por isso. Pare de lamentar o leite derramado! O leite pode estar derramado, mas a vaca continua no pasto. Por que perderia tempo chorando por um copo de leite?”
Se há algum valor nesta relação, então corra atrás, sofra pela causa certa. Existem muitas mulheres que sofrem o desprezo de seus maridos e não é este sofrimento que vale a pena – isto é sofrer pela causa errada.
Perdoe, pois o perdão reconstrói.  Muitas desejam vingança e a melhor forma de se “vingar” não é traindo, mas é você se tornando um ser humano melhor do que você era antes da traição.
Nada de espírito de “coitadinha”. Por favor! Ele (a) não te deseja mais! Se você continuar resguardando este ódio, este sentimento de ter sido jogada fora... Pare com isso! Lave esse rosto! Levante essa cabeça!
Não queira ser vítima. Queira saber encarar o sofrimento. Foi traída (o)? Encare essa traição, mas não se traia. Não permita que a traição se torne sua.
Quantos sofrimentos afetivos! Tudo bem o outro não te quer mais, mas você precisa se querer! Se você não se deseja, então não há mais solução para você.
Quantas pessoas chegam sofrendo e dizem que não sabem mais o que fazer com suas vidas. Eu não posso mudar a vida das pessoas. Não tenho como fazer a outra pessoa voltar a amar aquele (a) que reclama o amor perdido, mas, por favor, goste de você. Não permita que este sofrimento seja como um muro caído sobre você.
O ser humano pode se perder dele mesmo quando os muros das tragédias, dos sofrimentos caem sobre si e ficam debaixo dos concretos e não reagem. Ficam lamentando, mas não saem daquele lugar, não reagem de maneira positiva.
Em 2008 nas Olimpíadas, ao entrar a delegação chinesa aparece o atleta Yao Ming – o gigante de 2,29m carregando a bandeira da China e do seu lado havia um garotinho.
Num dado momento o ancora da TV diz: “E hoje ao lado do grande astro, uma surpresa: o menino sobrevivente do terremoto na província de Sichuan. Ele foi encontrado entre os escombros, ajudou a salvar colegas de escola e se tornou um herói no país”.
Essa criança ficou soterrada quase uma semana na escola em que ele estava com todos seus coleguinhas de classe e você sabe como ele salvou seus colegas? Ele não deixou seus colegas se desesperarem e durante todo o tempo em que estiveram soterrados eles cantaram motivados por este menino.
Eles cantavam e através do canto o resgate os localizou. Aquele menino fez a diferença no mundo porque na hora da dor ao invés de se render ao sofrimento e lamentar, ele resolveu cantar. Ele buscou o canto no mais profundo de seu coraçãozinho. Certamente aquele menino deve ter sido muito bem preparado. Com pouca idade já era suficiente para fazer dele um ser humano diferente. Ele certamente deve ter aprendido esta postura diante do sofrimento com os pais. “No momento de sua dificuldade, meu filho, não desista!”
No momento em que o “muro” cair sobre você, no momento em que o “concreto” tentar te sepultar, não permita e mesmo que você não tenha condições de sair sozinho cante para que alguém te escute.
O menino ao lado do atleta de 2,29m é uma cena poética. Um homem imenso ao lado de um ser tão pequeno. Agora eu pergunto a você: Depois de ter lido esta história e ao observar a foto acima, eu lhe pergunto: quem é o gigante nesta história?
Não importa quantos dias ele tenha ficado sepultado, o que importa é que ele não parou de cantar, não desistiu. A mesma coisa Deus quer nos dizer hoje. Não importa quanto tempo você tenha ficado sepultado (a), não importa quantas coisas tenham caído sobre você, quanto tempo você tem alimentado esse sofrimento desordenado do ponto de vista afetivo, não importa quanto tempo você deixou de se amar. O que importa é que hoje você pode cantar hoje você pode reiniciar um tempo na sua vida porque Deus ao curar o nosso jeito de interpretar o nosso sofrimento, Ele muda o que nós temos de mais profundo. A sua vida continua do mesmo jeito. A traição continua do mesmo jeito, a doença continua do mesmo jeito, você não tem como eliminar isto da sua vida, mas você tem como modificar esta chaga. Você neutraliza o poder do traidor, o poder da enfermidade dentro de você. Você neutraliza o poder do desprezo.
Quantas chagas afetivas tem o ser humano! Elas são alimentadas justamente com o ódio que a pessoa faz questão de nutrir. É como se apertassem uma ferida e não permitissem que ela cicatrizasse. Chega! Lave esse rosto! É vida nova! Há um novo para chegar!
Eu não sei o que está fazendo você envelhecer tão rápido, não sei o que tem feito você perder a esperança, o que está retirando seu brilho, eu não sei o que ficou antigo dentro de seu coração. Pode ser que você se sinta muito pequeno diante desta situação. Pode ser que você esteja amedrontado com o tamanho da vida, com o tamanho do problema.  Por favor, modifique o modo como você olha para você. Às vezes o que Deus precisa curar não é o outro. Não é o seu esposo (a) que precisa ser curado (a) da infidelidade, mas o jeito como você se enxerga como mulher, como homem e quem sabe você voltando a se amar, você voltando a se querer bem, você resgate aquilo que perdeu na vida.
Você consegue imaginar o que aquele menininho debaixo dos escombros precisou desafiar a si mesmo? Quantas vezes o coração dele deve ter vivido: “Não vai chegar ninguém”. Quantas vezes ele deve ter passado pela tentação de parar de cantar. Quantas vezes ele deve ter tido a tentação de se unir ao desespero de seus coleguinhas, a desesperança dos que estavam ao lado, pois na hora da desesperança o que mais existe são pessoas que nos puxam para trás. O que mais nós encontramos na vida são pessoas que tentam nos puxar para trás e aquele menino tendo que olhar nos olhos dos desesperançados e continuar alimentando a força de seu canto, pois ele não desistia. Mesmo a morte estando tão presente, chegando tão próximo, mesmo a morte ameaçando de maneira tão cruel, tão concreta, ele não desistiu.
Meu bem, se este menino não pode nos ensinar alguma coisa, então eu não sei mais o que aprender. Eu não sei se há mais alguma coisa a aprender se não for isto: Uma criança debaixo do concreto tentando encontrar o sentido da vida.
Mas porque será que o ser humano muitas vezes não reage? Porque será que muitas vezes o ser humano prefere sucumbir à dificuldade do momento? Porque tantas vezes o ser humano prefere o olhar de desesperança ao invés de prestar atenção no que pode dar certo. Isto é cura de Deus em nós. Modificar o jeito como nós olhamos nossas desesperanças. Elas não são determinantes em nós.
 Qual o concreto que está sobre você hoje? Peça hoje a Deus a graça de que este “concreto” seja retirado e com o esforço do seu canto a esperança possa brotar. Tenha a certeza de que Deus não deseja que o ser humano permaneça debaixo de escombros. Deus nos quer de fora, bonitos, restaurados, novos, porque o amor Deus por nós consiste nisso, em fazer nova toda criatura, em restaurá-la, em retirá-la de situações desfavoráveis. Peça a Deus hoje a graça de curar todos os afetos desordenados, todas as lembranças passadas, tudo aquilo que te aprisiona, tudo aquilo que é realidade e destruição em sua vida, todos os lixos afetivos que foram ficando em você, todos os acontecimentos que você não soube conviver bem com eles ao longo da sua história.
Proclame o poder de Deus sobre você, sobre seu coração, sobre seus afetos.
Meu desejo é que este texto, como um vulcão entrando em erupção, sua alma exploda e que estas palavras fecundem. Receba este texto como quem recebe um presente. Todas às vezes, durante a leitura, que você se recordou de uma situação ou de uma pessoa, e o texto veio trazendo tudo a tona e agora todas estas lembranças estão afloradas deixe que esses dois textos sobre sofrimento fecunde em você crescimento. Que hoje Deus possa te fazer crescer, te agigantar, pois sofrimento é coisa para gigantes. Que você tenha a coragem para enfrentar todas as dificuldades que a vida te apresenta. Que você possa amadurecer trazendo a consciência de que Deus não vai resolver os problemas. Quem tem que resolvê-los somos nós, mas Ele nos dá a força para cantar para que todo “concreto” que estiver sobre você seja lançado fora. Que você seja despertado em teu coração o querer: “Eu quero Senhor sair dessa situação de humilhação que o sofrimento me trás. Eu não quero que o sofrimento seja o destino final, eu quero que ele seja apenas ponte de travessia. Eu quero resgatar o que eu tenho de mais bonito no meu coração e esta benção vem agora para fecundar estes desejos”.
Quantos seres humanos precisam voltar a se amar, a se querer bem, a se desejar o bem! Quantos seres humanos precisam hoje sacudir a poeira e levantar assim como o Cristo glorioso levantou-se do sepulcro, assim como aquele garotinho de nove anos conseguiu sair debaixo do concreto depois de alguns dias soterrado, cantando um canto de esperança.
É este o meu desejo neste dia que se chama hoje para tua vida. Que o teu coração seja fecundado com esta coragem de todas as iniciativas que poderão fazer com que a tua vida ser bem melhor.
O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti. O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Regina Lopes

 
 
 

Mães de joelhos, filhos de pé

Já orou por uma criança hoje?

Pais de joelhos, filhos de pé